Eu sou do tipo de pessoa que tem apreço pela liberdade, costumo dizer que liberdade é uma das minhas palavras preferidas, mas será que realmente sabemos o real significado de sermos livres?
Liberdade vêm do latim “libertas” e significa a condição de pessoa livre, isto é, aquela que não é escravizada, dessa maneira, você já se questionou alguma vez o que te faz ser livre e o que te aprisiona? Bem, posso arriscar dizer que a maioria de nós não é livre ou pelo menos não 100%.
É da condição humana o desejo por liberdade, mas a atual percepção de liberdade é muito superficial, pois está relacionada a superação de limitações, em sua maioria, externas ou a inexistência de responsabilidades e comprometimentos. Contudo, segundo a filosofia Budista, encontramos a legítima liberdade quando aprendemos a controlar nossa mente, de modo a silenciar o barulho que há dentro de cada um de nós.
Quando dispersos e cheios de pensamentos somos, portanto, prisioneiros da nossa própria mente, que não nos permite simplesmente SER e que nos impossibilita de nos conectarmos com a mãe natureza e vivenciarmos a beleza da vida, como o desabrochar de uma flor ou nascer de uma fruta que nos serve de alimento.
Isso ocorre porque ruminamos o passado, nos preocupamos demais com o futuro e temos pouco controle dos nossos sentidos, de modo que somos conduzidos e aprisionados pelos nossos impulsos, haja vista a constante busca pela satisfação dos nossos desejos e paixões.
Trago aqui dois versos do Dhammapada, a título de exemplo, em que Buda deixa claro que a falta de autocontrole de uma mente não vigiada é capaz de nos roubar a liberdade.
“Aquele que vive somente a procura dos prazeres, ocioso, descontrolado nos sentidos, intemperante na alimentação, é dominado por Mâra, como as árvores fracas são derrubadas por uma ventania.” – Dhammapada verso 7.
“Quem vive com os sentidos bem controlados, sem procurar prazeres, se alimenta com moderação, tem confiança no poder da virtude, não será iludido por Mâra, como uma rocha não é abalada por um vendaval.” – Dhammapada verso 8.
Vivemos dia após dia repetindo pensamentos que não agregam, pois estamos acostumados com uma consciência tóxica oriunda de um diálogo interno sem fim em que passamos anos ruminando pensamentos negativos e destrutivos como, por exemplo, medo, ansiedade e mágoas do passado.
Atualmente há uma variedade de estímulo mental, de maneira que sempre temos algo ocupando a nossa mente, sejam pensamentos frequentes, notícias, filmes, séries ou redes sociais. Somos constantemente estimulados a fugir de nós mesmos, com isso, gera-se uma dificuldade de criar espaço para o silêncio que é o real caminho para encontrarmos a paz, a felicidade e a liberdade que tanto buscamos.
O silêncio interior é a nossa melhor oportunidade de sermos felizes e, o caminho para nos libertamos dos sofrimentos e das ilusões é aprendermos a ter controle da nossa mente, através da prática, do esforço e da reflexão, assim encontraremos um silêncio cheio de respostas.
“A mente é invisível e sutil, difícil de ser vigiada, correndo para onde lhe apraz. Que o sábio a vigie; vigiada é uma fonte de felicidade.” – Dhammapada verso 36.
É preciso saber ouvir a voz do silêncio e práticas de concentração como a respiração consciente pela manhã, nos traz de volta para “casa”, nos auxilia na reconexão com a nossa primeira e real identidade, ou seja, com a nossa alma e, assim, podemos nos fortalecer para superarmos todo o caos do mundo interno e externo que se instaura ao longo do dia.
Outra técnica simples, porém efetiva, de fácil aplicação no nosso dia-a-dia e que nos conecta com o momento presente, se dá na atenção plena ao caminhar, ao observar um pássaro voar, o balançar das árvores ou na realização de atividades que consideramos comuns, como varrer o chão ou lavar a louça.
Mentes instáveis não conquistam a plenitude da Sabedoria, o maior mal é o causado por uma mente mal dirigida, desconexa do momento presente, Buda disse aos seus discípulos: “Não agonize sobre o passado, porque o passado já foi. Não se preocupe com o futuro, porque o futuro não chegou ainda. Existe apenas um momento para você estar vivo e esse é o momento presente. Volte para o momento presente e viva profundamente e, então, você será livre.”
O tempo é valioso, porque ele é vida e se dedicarmos nosso tempo para ouvirmos nosso próprio coração, silenciando nossa mente e encontrando espaço para que o silêncio possa fazer morada, estamos investindo na qualidade de nossas vidas e, então, somos livres, temos paz.
Finalizo com uma frase do mestre zen budista Thich Nhat Hanh e aproveito para indicar como leitura seu livro Silence – The Power of Quiet in a World Full of Noise.
“Somente quando o mar está calmo e tranquilo podemos ver a lua refletida nele. O silêncio é, em última análise, algo que vêm do coração.”
Que possamos navegar em águas silenciosas rumo a verdadeira liberdade.
Até breve,
Samira Stoiani