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Enquanto a hora lhe é favorável




Em sonho, caminhando pela mata densa e pisando em folhas secas, pude ouvir o ruído das árvores produzido pelo sopro do vento. Naquele instante busquei me conectar com todos os elementais da natureza que também pareciam estar se conectando a mim.


Poucos passos mais à diante, encontrei um senhor que nitidamente visitava a floresta com frequência. Não precisamos de apresentações e formalidades, sabíamos que éramos velhos conhecidos, apesar de nunca termos nos visto anteriormente.


Ao me aproximar ele disse: “85 anos para concluir que 100 é muito pouco.”


Espantada repliquei: “Não sei o que o senhor está dizendo, mas me surpreende a sua idade. Você aparenta ser muito mais jovem do que...”


E antes que eu pudesse concluir ele continuou: “O que você vê, é um reflexo da minha alma. Já morri muitas vezes em vida e renasci muito mais leve. Venho lhe observando e sei que você traz em seu coração muitos questionamentos sobre a morte, então, feche seus olhos, pois temos uma viagem para fazer.”


Ele não estava equivocado, as inúmeras curiosidades sobre os mistérios do pós morte me acompanhavam há muito tempo. Então, fui conduzida com ajuda daquele velho conhecido para lugares que jamais imaginei existir.


Meu corpo parecia tão leve e o tempo certamente não passava da mesma forma. De longe, observávamos cenários muito distintos que pareciam planos e subplanos de maior ou menor densidade. Os mais sutis irradiavam luz e os mais densos pouca luz e até mesmo uma completa escuridão.


O senhor da floresta, muito experiente, parecia ler meus pensamentos e me explicou brevemente que em vida nos carregamos de virtudes e defeitos ou luz e sombra e que nossos pensamentos e emoções como consequência das experiências que vivemos na matéria geram uma frequência energética em cada um de nós.


Com a primeira morte do corpo físico, a consciência espiritual permanece com o mesmo estado vibracional, portanto, o plano astral-mental que cada um de nós experienciará será como uma projeção da nossa vida física, de modo que cada um irá para o devido lugar correspondente com a sua própria vibração.


“O céu e o inferno ou como queiram chamar, são projeções mentais de cada ser humano de acordo com a sua crença e com tudo o que foi cultuado em vida. Ninguém evolui porque morre, o ideal é que a busca por patamares mais elevados da consciência se dê em vida.” – assim, me explicou.


Conclui, com base nos estudos que já havia feito, de que a alma passa por uma “segunda morte” quando compreende e opta por trabalhar as mazelas acumuladas em vida e, assim, ao transmutá-las vai de encontro a luz e alcança níveis mais sutis.


“Devo acrescentar aos seus pensamentos que a alma acostumada a caminhar pela escuridão, costuma temer e fugir da luz. Confrontar nossas reais intenções e motivações, talvez, seja um dos atos mais dolorosos.” – disse-me o sábio senhor.


Numa fração de segundos, deixamos o plano astral e passamos a caminhar em uma praia repleta de caranguejos que trocavam suas cascas naquele momento.


“Perceba como essas pequenas criaturas são desapegadas de suas vestimentas, as descartam como um processo natural de suas vidas. Nós, humanos, nos apegamos ao personagem provisório que assumimos para encenar no palco da vida, o que torna muito mais difícil o momento da passagem. Se aprendermos em vida a renunciar hábitos antigos e deixar morrer memórias traumatizantes e sentimentos dolorosos, mais fácil se torna nossa libertação da matéria.”


Após seu esclarecimento tive a sensação de um forte vento passando por mim e quando notei já estávamos novamente sentados na floresta e o senhor, prontamente, me disse:


“Agora você conhece o poder do pensamento e nele estão atreladas as suas emoções. Atraímos para nossa vida tudo aquilo que está em ressonância com o nosso próprio ser, portanto, aceite as experiências da vida e extraia o melhor das situações, pois assim, passará a vibrar na frequência do amor e da luz.”


Percebi que, enquanto falava comigo, ele recolhia algumas pedras e plantas do chão como se estivesse se ajeitando para partir, então, lhe questionei: “Para onde vai? Eu ainda tenho muitas perguntas.” E ele me disse: “Já está na hora de você acordar...”


Despertei às 7h com miados me lembrando de que já havia passado o horário do café da manhã.


Antes que pensamentos rotineiros pudessem preencher minha mente, sentei-me com meu chá da manhã e anotei tudo aquilo que ainda estava vivo na minha memória. Fiz uma pequena lista do que entendi como essencial para a vida:


1-      Corrija o erro, enquanto a hora lhe é favorável;

2-      Para saber morrer é preciso saber viver;

3-      Vigie seus pensamentos e emoções;

4-      Morra quantas vezes forem necessárias em vida;

5-      Questione suas reais intenções;

6-      O que você faz em vida, ecoa na eternidade;

7-      Busca a essência que dê sentido à vida.


Ao final da minha pequena lista, transcrevi um trecho do poema de Khalil Gibran: “Se quereis realmente contemplar o espírito da morte, abre amplamente as portas do vosso coração ao corpo da vida, pois a vida e a morte são uma e a mesma coisa, como o rio e o mar são uma e a mesma coisa.”


De fato, 100 anos é muito pouco...


Até breve,

Samira Stoiani

 

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