(Imagem do Pinterest)
Ella é uma menina madura apesar da pouca idade. Sempre a via brincando com seu cavalo de madeira amarrado na cintura e nossas conversas não duravam mais do que 5 minutos, exceto pela última vez, quando me contou sobre os misteriosos seres que habitavam um bosque próximo a nossa vizinhança.
Curiosa com a sua capacidade de imaginação e sem pressa de voltar para casa, decidi ouvi-la. Ella me contou que, certa vez, foi andar de bicicleta pelo bosque, já que há muitas trilhas específicas para este propósito por lá. Entre pinheiros enormes e caminhos diversos, acabou se perdendo de suas amigas.
Para piorar sua situação, seu celular tinha apenas 2% de bateria, pois além de antigo, Ella e suas amigas haviam tirado muitas fotos. Assim sendo, decidiu tentar encontrar o caminho de volta para o estacionamento enquanto era dia e sem gastar o pouco do celular que ainda lhe restava.
Pedalando com pressa, disse-me ter freado às pressas ao ver um pequeno ser passando logo a sua frente. Perguntei-lhe como eram as características desse ser e sem nenhuma expressão de dúvida me disse: “Era um gnomo. Ele é um mantenedor da terra, pelo menos foi o que me falou.”
Fiquei tão surpresa com a sua resposta e interessada na história que precisava de mais detalhes e, entre uma brincadeira e outra de pular arbustos, Ella narrou com naturalidade as experiências que havia vivenciado naquela tarde.
O gnomo que usava uma roupa em tons de laranja e morava em um pequenina casa de pedras, explicou para Ella que ele era um colaborador da vida humana e que todos se conectavam à ele, mesmo que de forma inconsciente, sempre que lidavam com seus próprios sentidos e com questões da vida prática como, por exemplo, ao se conectarem com a energia do trabalho e do dinheiro.
Ella ficou pensativa por alguns segundos e disse: “Acho que ele nunca tinha visto um tênis. Ficou tão entretido com os meus que, enquanto conversávamos, tive que tirá-los e ficar com meus pés na terra úmida.”
Empurrando sua bicicleta descalça, preferiu não comentar com o gnomo que estava perdida e em busca da saída. Apesar de ter nascido nesta região e ter visitado o bosque inúmeras vezes, disse-me não se acostumar com o tamanho daquelas árvores e reforçou o quanto era fácil de se perder.
Inconformada com o fato de eu não conhecer muito bem a região, explicou-me que ao final do Bottle Lake, como é chamado o bosque, há uma praia pouco movimentada e segundo as conversas que teve com seu novo amigo, ali também seria o habitat de salamandras e ondinas que, eram responsáveis por cuidarem, respectivamente, do fogo e da água.
Percebi que Ella me contava de forma inocente todas as valiosas lições que o gnomo havia lhe passado e apesar de já ter pesquisado sobre o assunto, quis entender a profundidade do conhecimento que havia sido lhe passado, então disse: “Se eu quiser ver essas salamandras, basta ir até essa praia?”
“Sim e não. Você não precisa vê-las para sentir a presença delas, na sua casa uma vela pode fazer essa ligação entre vocês, sempre que você necessitar de uma dose a mais de motivação e o mesmo acontece com as ondinas quando você se conecta com as plantas e ganha mais vitalidade.”
Após esclarecer minha dúvida, continuou a me descrever sua aventura, enquanto corria de um lado para o outro.
Com o sol já se pondo e os pinheiros exalando um perfume fresco ainda mais intenso, Ella disse ter fechado os olhos para sentir a brisa do anoitecer e ao abri-los novamente pode ver delicados seres voadores que interpretou como fadas.
Segura do que estava me narrando continuou: “As fadas eram completamente verdes e menores que os gnomos, pareciam dançar com o vento. Sei que foram elas as responsáveis por eu ter encontrado a saída, porque as senti como se estivessem dentro da minha mente, lendo meus pensamentos.”
Surpresa com sua história, tentei disfarçar falando a primeira coisa que me surgiu na cabeça: “Nossa! Ver uma fada deve ter sido algo muito mágico.”
“Não sou a única que teve contato com seres da natureza no Bottle Lake. Muitas histórias se espalharam pela cidade e há quem acredite que isso seja uma lenda, mas eu pude constatar com meus próprios olhos.” – disse-me.
Me despedi de Ella e assim que cheguei em casa, resolvi pesquisar sobre o bosque. Descobri que recentemente moradores da cidade passaram a construir casinhas dedicadas às fadas e gnomos e que ali tornou-se uma vila encantada cheia de magia que atrai turistas todos os finais de semana.
A minha empolgação era tamanha que eu não poderia esperar por mais 5 dias para conhecer o famoso bosque, então, me organizei para visitá-lo no dia seguinte. Antes de percorrer os longos corredores de pinheiros, fiz uma breve meditação para honrar aos Espíritos da Natureza que ali habitavam.
Ella estava correta, a energia daquele lugar era surpreendente e facilmente perceptível. Os raios de sol penetravam por entre as árvores que exalavam um perfume hipnotizante e suas fortes raízes eram sinais de anos de sabedoria e mistérios que jamais saberemos. Uma sensação de paz e pertencimento tomou conta do meu coração, certamente todos os meus campos de energia estavam sendo tocados pelos Espíritos da Natureza que cuidadosamente me renovaram.
Depois daquele dia, notei os Espíritos da Natureza por todas partes e sempre que posso procuro ouvir o sussurrar dos seus segredos para uma vida mais harmônica e feliz.
Até breve,
Samira Stoiani
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