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TÉO, O AMIGO DE DEUS

  • Writer: samira fernandes
    samira fernandes
  • Apr 24
  • 11 min read


“Meu nome é Téo. E talvez você já tenha ouvido falar de mim — ou, quem sabe, viu meu vídeo circulando pela internet. Pode ser que você tenha encontrado conforto nas minhas palavras... ou talvez tenha sentido raiva de mim. Quem sabe eu tenha, de algum modo, ferido a sua fé.


De qualquer forma, se você chegou até este vídeo, por favor, me escute. Eu sei que ele tem mais de 15 segundos e que sua vida é corrida e que há milhares de vídeos mais interessantes e engraçados por aí. Mas eu prometo tentar ser breve.


O vídeo da semana passada viralizou quando eu disse, com todas as letras, que perdi a fé. Que deixei de acreditar em Deus. Isso causou um certo alvoroço, principalmente porque sempre fui bastante ativo nos trabalhos sociais da igreja — quase um braço direito do padre Renato.


Desde os 17 anos, me envolvo em trabalhos voluntários. Mais de uma década levando comida, de madrugada, para moradores de rua. Trabalhei no brechó da paróquia, organizei campanhas de doação de roupas, de ração, ajudei ONGs que cuidam de animais esquecidos. E mesmo assim... cansei de esperar pela ação misericordiosa de Deus. Me desgastei de ver tanto sofrimento e tanta desigualdade. Que Deus é esse que assiste, em silêncio, a tantas atrocidades?


Sempre disseram que eu era uma alma sensível — e, honestamente, eu também achava que era. Mas, com o tempo, essa sensibilidade foi se esvaziando. Foi dando lugar a uma espécie de frieza, um desapego que eu nem reconhecia em mim. A grávida pedindo-nos roupas porque só tinha as do corpo, a criança dizendo que estava com fome... tudo isso virou rotina. Normal. Corriqueiro. Nada mais me abalava. Comecei a perceber que passava o dia anestesiado diante da dor humana.


Claro que o padre Renato se ofendeu com o meu posicionamento, assim como minhas companheiras de trabalho que, pediram minha saída imediata do grupo. Mas a verdade é que o que eu disse... foi um desabafo. E uma vez dito na internet, não tem mais volta.


Não estou aqui para dizer que me arrependi, nem para fingir que mudei de opinião. E você, que me critica do conforto da sua casa, talvez nunca tenha olhado nos olhos de uma criança abandonada. Talvez nunca tenha ajudado a curar o trauma de um animal maltratado.


Eu, sim. Durante anos. E o que vi... foi o mundo girar, sem mudança alguma.


Desculpa se a minha opinião te ofendeu, essa não foi a minha intenção.


E que fique claro: não estou atrás de seguidores ateus que buscam porta-vozes para os seus achismos científicos.


Essa é apenas a minha visão. A visão de alguém que tentou, de verdade, encontrar respostas. Mas que, infelizmente, não teve sucesso.”

 

— E pronto, postado! — disse aliviado.


— Acho melhor você não acompanhar os comentários. – disse minha irmã, em tom preocupado.


— Sinceramente, a opinião das pessoas não me afeta em nada. — respondi.


— Você realmente perdeu a fé?


— Não é tão simples, Ariel. Eu gostaria de acreditar em milagres... de compreender o incompreensível.


— Talvez seja menos sobre encontrar respostas racionais e mais sobre sentir no coração — disse ela, com os olhos emaranhados.


Ariel, apesar de mais nova do que eu, sempre se preocupou comigo. Ela é uma grande inspiração de bondade. Seu otimismo e gratidão pela vida costumam me trazer paz e uma vontade de querer fazer mais pelas pessoas.


Mas, nesse exato momento, eu só preciso de espaço. E de tempo.


— Ariel, desculpa... mas eu gostaria de ficar um pouco sozinho. E, além disso, já está tarde. Sei que amanhã você tem que acordar cedo. Ouvi dizer que, com o início do inverno, as filas nos hospitais públicos estão crescendo bastante.


— Tudo bem — ela respondeu, com um sorriso compreensivo. — Mas se em algum momento você quiser conversar, desabafar... sabe que pode contar comigo, né? Eu respeito seu ponto de vista, mesmo que não o compartilhe.


— Obrigado, Ariel. De verdade.


Assim que ela saiu do quarto, olhei para a tela do celular ainda acesa. O vídeo já tinha começado a receber comentários — uma mistura de “o mundo precisa de menos pessoas como você” e “a fé só me trouxe culpa e frustração”.


Ao ler, apenas constatei aquilo que eu já sabia: o mundo está cada vez mais fragmentado e intolerante. E eu, sem querer, acabei lançando mais um tópico no tribunal da internet.


Em meio à enorme discussão que toma conta dos comentários do meu vídeo, recebo uma notificação nas mensagens privadas.


Será que a pessoa preferiu me ofender longe dos holofotes? Talvez não quisesse se expor nos comentários públicos porque o que tem a dizer poderia queimar sua reputação. Ou, quem sabe, resolveu me ameaçar. Seja lá o que for, não vou deixar isso passar. As pessoas precisam entender que não é aceitável ofender os outros e achar que está tudo bem.


Abro a mensagem, que diz:


@eliana_Kabir1: Olá, Téo. Sinto muito que tenha se desconectado da fonte criadora. Tenho interesse em lhe propor algo. Se gostar de desafios, aceite meu convite como o grande desafio que poderá mudar o rumo da sua vida.


Além da mensagem enigmática, sua foto de perfil também não revela muito. Entro em seu perfil, mas não tenho sucesso — as fotos são privadas e na descrição da bio, apenas uma frase: “No momento, onda. Mas sei que sou mar.”


O celular vibra na minha mão. Uma nova notificação.


@eliana_Kabir1: Desculpa Téo, minha intenção não era ser misteriosa. Uma viagem. Gostaria de te propor uma viagem para Uganda com meu grupo “Irmãos pelo mundo”.


A mensagem me pega de surpresa.


Voluntariar na África sempre foi um sonho — daqueles que pareciam distantes, pela falta de oportunidades e, claro, de dinheiro. Eu deixei de acreditar no Deus que diz amar incondicionalmente, mas se faz ausente. Aquele que tem poderes, mas permite o sofrimento. Entretanto, nunca deixei de acreditar que pessoas e animais precisam de ajuda. O meu lado humanitário não morreu, tão pouco se apagou.


Resolvo respondê-la:


@teocordis: Oi Eliana. Sinceramente, não sei se faria sentido eu participar nesse momento. Além disso, não tenho condições de bancar uma viagem internacional.


@eliana_Kabir1: Faria todo sentido. Você poderia fazer exatamente aquilo que sabe de melhor — ajudar quem precisa. E, quem sabe, talvez ganhe uma nova perspectiva sobre sua fé.


@eliana_Kabir1: Quanto aos custos, não se preocupe. Somos patrocinados por algumas grandes empresas que cobrem todas as despesas. Uma das nossas voluntárias acabou de ter bebê, então temos uma vaga aberta. Só falta você dizer sim!


@teocordis: Sobre mudar meu ponto de vista, acho pouco provável. Então, se a sua intenção for me convencer de algo, é melhor não perder seu tempo comigo.


 @eliana_Kabir1: Não pretendo te convencer de nada. Apenas mais um trabalho voluntário, sem nenhuma condição. Você pode acessar nosso blog e conhecer um pouco mais sobre nossa missão. O telefone está no site — basta mandar seu nome e eu deixo tudo encaminhado.


@teocordis: Tudo bem. Obrigado.


Eu preciso descansar. Meus olhos estão pesados, e amanhã é o prazo final para entregar o site de um cliente que consegui como freelancer. Apesar dos comentários e visualizações no meu vídeo só crescerem — aumentando minha curiosidade — pelo bem da minha carreira... eu preciso dormir.


Decido tomar um banho, esperando que a água leve um pouco do peso do dia. Mas o que deveria ser um momento de relaxamento se transforma em um redemoinho de ansiedade. Minha cabeça gira sem parar, pensamentos atropelam uns aos outros. Não consigo relaxar. Preciso olhar o blog.


Saio do banho e, ainda enrolado na toalha, clico no link.


O cabeçalho carrega uma imagem simples: ao fundo, casas de tijolos crus, inacabadas — como cicatrizes abertas, refletindo a pobreza de gerações. À frente, crianças sorrindo, mas cujos olhos carregam o peso silencioso e a dor de uma vida marcada por sacrifícios e limitações. O título diz: "Através da dor e da alegria, todos nós dançamos no compasso do amor."


Continuo a rolar a página. Fotos, relatos, histórias de pessoas em comunidades esquecidas e sorrisos conquistados com pequenos gestos. Médicos voluntários, professores improvisados, artistas que se propõem a levar alegria e esperança. Tudo parece tão... humano. Tão real.


Reflito por alguns segundos. Talvez esse convite tenha vindo por um motivo maior. Ou talvez seja apenas uma oportunidade de continuar fazendo aquilo que dá sentido aos meus dias: ajudar, cuidar, servir. Seja como for, decido que amanhã confirmarei minha participação.


— Estou tão animada por você, irmão! — disse Ariel, empolgada. — Trabalhei com alguns colegas que estiveram no Médicos Sem Fronteiras, e todos disseram que foi uma experiência transformadora — concluiu.


— Hoje pela manhã, participei de uma reunião no Zoom para conhecer toda a equipe e entender melhor sobre o preparo necessário para a viagem — compartilhei. — Tenho apenas uma semana para organizar tudo, e, por sorte, estou com todas as vacinas em dia.


Os dias passaram num piscar de olhos. Cá estou eu, no portão de embarque do aeroporto, vestindo a camiseta da instituição Irmãos pelo Mundo, cercado por um grupo de pessoas que compartilham do mesmo propósito que o meu. Estou prestes a viver um sonhos que, jamais, imaginei vivenciar.


Durante o voo, aproveitei para estudar um pouco mais sobre a comunidade que iremos ajudar e compreender melhor quais são suas reais necessidades. Assim que pisamos em solo africano, Eliana — a líder do nosso grupo — pediu a atenção de todos e disse:


— Agradeço a cada um de vocês por terem aceitado estar aqui. Tenho certeza de que, mais uma vez, ao final da nossa missão, voltaremos não apenas realizados, mas transformados. Aqui, não falaremos em nome Deus... mas Ele falará através de nós.


Todos aplaudem, menos eu, que finjo procurar algo na minha bagagem de mão, quando, na verdade, apenas tento disfarçar meu desconforto. Ainda carrego minhas próprias questões sobre Deus —  não quero ir contra os meus sentimentos apenas para ser agradável.


Uma van nos aguardava para nos levar ao nosso destino. Durante o trajeto, pela janela, observo os sinais de um país marcado por feridas profundas — heranças de um passado colonial, desafios econômicos persistentes e, também, muita corrupção em níveis governamentais. Mas meu papel aqui não é me revoltar e questionar, mas fazer o que está ao meu alcance: oferecer ajuda, mesmo que pequena, e estar presente onde há necessidade.


Sou o primeiro a descer da van e, assim que coloco os pés no chão, avisto dezenas de crianças correndo em minha direção. Sou abraçado por todos, de todos os lados. Seus olhos curiosos buscavam os meus, e suas pequenas mãos tocavam meu cabelo ainda bagunçado pelo voo. Em meio aos sorrisos sinceros, um coral de 'bem-vindo' ecoava por todos os cantos. Sem dúvidas, a melhor recepção que eu poderia receber.


Aos poucos, vamos nos familiarizando com a comunidade e entendendo onde podemos ser mais úteis. A experiência de Eliana faz toda a diferença na organização e distribuição das atividades. Fiquei responsável por auxiliar no preparo e na entrega do almoço para as crianças, que consistia em arroz, feijão e um pequeno pedaço de frango — ou, em alguns dias, macarrão com salsicha.


As crianças formam filas e, na maioria das vezes, parecem priorizar um abraço em vez da própria comida. É impossível não perceber os sinais de desnutrição em muitos deles, mas, aos meus olhos, a maior fome que carregam é de amor.


No fim da tarde, enquanto estou sentado com as crianças, assistindo à apresentação de dança dos meus colegas, uma menininha de três ou quatro anos se aproxima, timidamente, e apoia a cabeça no meu ombro. Pergunto seu nome, mas ela apenas me olha, como se não compreendesse o que digo. Permanecemos assim até o anoitecer — em silêncio, mas conectados. Ao me despedir, seus olhos carregavam uma profundidade que jamais encontrei em nenhum outro olhar.


Fiquei tão intrigado e tocado com aquele momento que decidi compartilhar com Eliana e tentar saber mais sobre a menina.


— Eliana, espero não estar te incomodando a essa hora da noite — disse, parado à porta do alojamento dela.


— Imagina, Téo. Eu estava mesmo querendo companhia para tomar meu chá. Como têm sido seus dias? — perguntou, com um sorriso acolhedor.


— Produtivos... e cansativos também. No melhor sentido possível. Nada como deitar à noite com a sensação de dever cumprido — confessei. — Hoje, conheci uma garotinha. Ela não me disse o nome, nem quis brincar com os amigos. Usava uma camiseta rosa da Minnie e uma saia estampada. Você saberia quem é?


— Ah, eu vi vocês dois sentados juntos. Pedi para o fotógrafo da equipe registrar aquele momento. Provavelmente temos uma foto de vocês. O nome dela é Shamirah. Ela nasceu surda e muda, por isso não respondeu. Ainda não encontramos alguém que possa ensiná-la a linguagem dos sinais.


— Os olhos dela me disseram mais do que mil palavras — comentei, ainda mergulhado em reflexão.


— E o que foi que eles te disseram? — perguntou Eliana, com curiosidade.


Fiquei em silêncio. As lágrimas, inevitáveis, escorreram pelo meu rosto — algo que não acontecia havia anos. Eliana respeitou meu momento, sem pressa, apenas presente.


Depois de alguns minutos, finalmente respondi, com a voz embargada:


— Eles disseram que me amam.


Eliana sorri e diz:  


— Talvez Deus exista, Téo... só não do jeito que te ensinaram a acreditar.


Permaneci calado e ela continuou:


— O que quero dizer é que, quanto mais compreendermos o amor, mais nos aproximamos de entender Deus. Precisamos confiar no caminho e transcender a dualidade entre o bom e o mau, o justo e o injusto. Esse êxtase que você está sentindo é a presença de Deus, tentando explicar para sua razão que Ele está presente o tempo todo.


— Talvez, eu estivesse preso num conceito de salvação. — disse, ainda confuso.


— Quando vejo sua generosidade e o cuidado que tem com outros seres humanos, não preciso de mais nenhuma prova da existência de Deus. Eu o vejo através de seus atos. E você, Téo, conseguiu enxergá-lo no amor genuíno que transbordava dos olhos de uma criança. Deus age por amor, por meio de atos necessários, porque a alma eterna, um dia transcenderá todas as camadas criadas pelo ego humano e se reintegrará à unidade.


Cada palavra dita por Eliana parecia ecoar dentro de mim. A angústia acumulada por anos, fruto de uma confusão enraízada em mim, começava a se dissipar como uma luz surgindo no meio do nevoeiro. Sinto até certo constrangimento em admitir, mas, após anos estudando a Bíblia e frequentando fielmente as missas de domingo, percebo agora o quanto meu conceito de Deus era ingênuo e infantilizado.


— Téo, a sua devoção não está nas vezes em que reza o terço, na perfeição com que entoa um mantra ou na sua capacidade de jejuar em nome de Deus. Ela se revela nas suas atitudes cotidianas, porque Deus habita nos pequenos gestos do dia a dia — aqueles que, muitas vezes, passam despercebidos. Deus é essa presença silenciosa dentro de nós, que se manifesta no mundo através do amor… um amor tão profundo que muitos não conseguem experimentar nem mesmo em toda uma vida.


— De alguma forma, o que você diz ressoa como verdade dentro de mim. Mas por que, então, ainda existe tanta maldade e desigualdade no mundo? — perguntei, desanimado.


— Eu também me entristeço com isso, Téo — respondeu ela, suavemente. — Mas acredito que nada acontece em vão. Para cada ação, existe uma reação. Nenhum gesto, pensamento ou escolha se perde na eternidade. Tudo fica registrado em nossa memória espiritual. No fundo, trata-se de um processo de despertar da consciência... e talvez muitas pessoas ainda estejam apenas começando essa longa jornada de reconexão com o divino.


— Ou seja, as sombras nascem no mundo, porque os homens se tornaram opacos. — disse.


— Exatamente isso! — respondeu Eliana, surpresa com a minha colocação. — Os templos e as igrejas, de todas as vertentes, estão cheios... como peixes no oceano em busca de água, porque estão sedentos. Quando, na verdade, Deus está aqui — concluiu, tocando suavemente o próprio coração.


Essa conversa mudou a minha vida. Permanecemos ali sentados, compartilhando experiências por mais meia hora. Fizemos uma chamada de vídeo com Ariel, que prometeu vir nas próximas missões para ajudar com os cuidados médicos. Ela também mencionou conhecer alguém que poderia ensinar o básico da linguagem de sinais aos responsáveis por Shamirah.


Nos dias seguintes, recebemos doações de roupas e chinelos para as crianças, além de cestas básicas destinadas às famílias em situação de vulnerabilidade. Também tive a oportunidade de participar de reuniões sobre novos projetos voltados à capacitação e profissionalização de jovens adultos da comunidade. Inclusive, me ofereci para compartilhar meus conhecimentos em programação com eles.


Meus finais de tarde são dedicados à Shamirah. Brincamos, dançamos e rimos juntos. Aprendi a decifrar seus sinais corporais e, pouco a pouco, sinto como se nossas almas se reconhecessem de outras vidas. Quando o sol começa a se pôr, sentamo-nos juntos para observá-lo desaparecer no horizonte — um ritual simples que se tornou o ápice dos meus dias.


Passei boa parte da vida buscando por Deus — em sinais grandiosos, em ações miraculosas. Mas só quando me libertei das expectativas irreais é que fui capaz de compreendê-Lo. Foi no abraço sincero de Shamirah que, pela primeira vez, testemunhei o verdadeiro amor de Deus.


Quinze dias se passaram desde que chegamos aqui e hoje é o nosso último dia. Entre abraços e despedidas, um sentimento de gratidão toma conta de mim. Sei que na minha bagagem carrego muito mais do que lembranças. Carrego vozes, gestos, sorrisos e a certeza de que o amor tem o poder de curar feridas invisíveis.


Uma palavra dita pode não voltar, porém pode ser retificada — e eu não vejo a hora de poder gravar um novo vídeo dizendo, com o meu coração em paz:


“Meu nome é Téo e eu sou um grande amigo de Deus.”


Até breve,

Samira Stoiani

 
 

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