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CONTOS ASTROLÓGICOS – SEMANA 05/05 À 11/05/25

  • Writer: samira fernandes
    samira fernandes
  • May 7
  • 5 min read

Inspirado pelas energias da semana — com Plutão retrógrado em Aquário e a Lua Crescente em Leão — este conto fala sobre transformações internas e a coragem de enfrentar situações desconfortáveis e medos inconscientes. É um convite a olhar para dentro, resgatar a própria voz e, se necessário, recomeçar.


05 de Maio, 2025.


Na última hora, a televisão ligada só transmite a mesma manchete: o caos no continente europeu, provocado por conflitos de ideologias religiosas. Uma disputa entre quem pode mais e quem pode menos, entre a minha verdade e a sua — em que momento deixamos de nos espelhar na natureza?


Há árvores que precisam de mais ou menos sombra, flores que exigem mais ou menos água, animais que seguem instintos semelhantes em busca da mesma coisa — e, ainda assim, todos coexistem em equilíbrio, no mesmo ambiente. Um exemplo de harmonia nas diferenças.


Juro que não entendo. E também não compreendo por que, logo pela manhã, as pessoas se sentam com o café em mãos, imersas em seus celulares ou hipnotizadas por essa televisão. Como se, de alguma forma, já não houvesse mais nada dentro delas.


Meu gerente me olha como quem diz: “faça alguma coisa, em vez de julgar os clientes.” Suspiro. Resolvo então atender um rapaz que, diferente da maioria, parece imerso nos próprios pensamentos — tão concentrado que parece incapaz de se aborrecer com o barulho do mundo ao redor.


— Bom dia! Gostaria de fazer seu pedido? — perguntei, com a simpatia treinada de quem preferia estar em qualquer outro lugar.


— Estou aguardando minha esposa, ela não deve demorar... Ah! Pronto, ela está entrando — respondeu ele, sorrindo e acenando para alguém que acabava de chegar.


Quando ele se vira, eu olho por cima do ombro dele — e dou de cara com ela. Minha ex-professora de canto.


Não acredito. Será que é possível o chão se abrir sob nossos pés, assim, do nada? Me esconder ali, desaparecer — como se isso não estivesse realmente acontecendo?


— Tália, que surpresa boa te encontrar! Não sabia que você trabalhava aqui. Achei que já estivesse cantando profissionalmente — disse ela, pousando a mão no meu ombro, com aquela gentileza que só torna tudo ainda mais desconfortável.


Bem, eu resolvi sair da aula de canto sem aviso prévio, porque, sinceramente, não acreditava no meu potencial. E, além do mais, meus pais já haviam planejado um futuro na medicina para mim — os dois são médicos — e não seguir os passos deles seria uma grande decepção para nossa família. Por isso, resolvi voltar estudar para o vestibular.


— Ah... é, estou por aqui agora — respondi, com um sorriso sem graça.


Ela me olhou por um segundo a mais do que eu gostaria — como quem enxerga algo além da superfície. Aquele tipo de olhar que parece perguntar o que deu errado sem dizer nada.


— Mas você não desistiu do seu sonho, não é? — continuou ela, com a voz doce demais para a tensão que crescia no meu peito.


Eu achava que esse assunto já estava resolvido dentro de mim, mas, pelo visto, a ferida ainda está aberta — mal cicatrizada. Sem saber, minha ex-professora acabou abrindo uma gaveta que eu vinha evitando mexer há meses.


— Sim. Quer dizer... ainda estou organizando algumas coisas. Projetos pessoais — respondi, evitando entrar em detalhes para não expor minhas fragilidades. — Vocês já sabem o que vão pedir? — concluí, numa tentativa educada de encerrar o assunto.


Eles se entreolharam e, percebendo meu desconforto, resolveram fazer o pedido.


De volta ao balcão — de onde eu provavelmente nem deveria ter saído — comecei a preparar um cappuccino e um espresso. Foi quando vi, pelo canto do olho, minha ex-professora vindo em minha direção. Tudo o que eu mais queria era evitar essa conversa.


— Tália, querida, eu preciso te dizer algo que eu gostaria muito que alguém tivesse me dito quando eu era mais jovem — disse ela.


Com as mãos apoiadas no balcão, respirei fundo, e ela continuou:


— Eu me lembro que seus pais planejavam um futuro diferente para você. E, como filha, imagino que queira honrá-los, mas...


Antes que ela terminasse, interrompi sem muita paciência:


— Não é bem isso. Eu é que não via potencial na música... em mim.


— Como assim? Eu sempre te disse que você era uma das melhores alunas da escola.Você precisa superar seus medos, sua falta de confiança em si mesma e, principalmente, assumir de vez o seu eu autêntico. Me desculpe a sinceridade, mas é um desperdício ver talentos como você desistirem dos próprios sonhos — disse ela, numa versão de si mesma que eu desconhecia, mas que adorei.


— Eu não sei se as pessoas vão me ouvir, se vou ter sucesso… e nem sei por onde começar — confessei, expondo minha situação atual, ou seja, uma completa bagunça mental e emocional.


Percebo um leve sorriso no canto da boca dela, como quem acabou de ouvir exatamente o que esperava.


— Às vezes, quando nos olhamos no espelho de um quarto que ficou fechado por muito tempo, tudo o que vemos é poeira. Somos incapazes de enxergar nosso próprio reflexo. Então, precisamos limpar essa poeira para que possamos começar a nos ver de verdade. Num primeiro momento, essa poeira vai te causar desconforto — vai te fazer espirrar, talvez até te dar uma alergia. Mas, quando terminar de limpar, o que restará será uma imagem clara... a sua imagem verdadeira.


Permaneço em silêncio por alguns instantes, refletindo sobre quantas vezes eu “varri para debaixo do tapete” situações ou conversas desconfortáveis só para não desagradar. Mas tudo isso ainda está dentro de mim, acumulado, impedindo que eu seja feliz com as minhas próprias escolhas.


— Agradeço suas palavras… mas ainda tenho muitas dúvidas, e bloqueios que eu sei que precisam ser desconstruídos e transformados — disse a ela, desviando o olhar.


Ela me observou com calma, sem pressa de interromper o meu processo.


— Tália, permita que a força e a confiança que existem dentro de você possam crescer. As dúvidas sobre o futuro só trazem instabilidade — e te fazem perder oportunidades preciosas. Você precisa aprender a confiar na sua voz interior. Eu torço por você. Sei da sua capacidade de ir além e alcançar altos patamares. Mas, para isso, é preciso fazer uma reavaliação interior. Um reencontro com quem você realmente é — entendendo, no fundo, pelo que você quer ser lembrada.  finalizou, segurando minha mão com firmeza e afeto.


Entrego os cafés e a observo voltar para sua mesa.


De repente, o barulho da cafeteria pareceu se dissolver. E, por um instante, tudo o que restou foi aquela pergunta, latejando dentro de mim:


E se eu ainda puder recomeçar?


Até breve,

Samira Stoiani

 

 

 

 

 
 

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