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A Reencarnação prevista no Bhagavad Gita

A tradição Hindu conhecida por sua sabedoria milenar possui diversas escrituras sagradas riquíssimas em conteúdo espiritual.


Os textos mais antigos da literatura védica são os chamados Vedas e, embora, não haja nenhuma informação explícita sobre o processo de reencarnação, ainda assim, é possível encontrar menções sobre a crença na existência da vida após a morte. Deste modo, a referência Hindu mais antiga sobre o renascimento é encontrada no Brihadaranyaka Upanishad.


O Bhagavad Gita de que vamos falar, significa “A canção de Deus” e faz parte da literatura religiosa da Índia e, certamente, é um clássico para aqueles que buscam o conhecimento espiritual. Esse conto, que é um diálogo entre Deus Krishna e o guerreiro Arjuna, está inserido no Mahabharata - um dos textos sagrados de maior importância no Hinduísmo.


O conto que se passa num campo de batalha é cheio de simbolismos e valores a serem adquiridos pela humanidade, de modo que ao fazer a leitura dessa obra, deve-se realizar uma interpretação profunda da mensagem que está sendo transmitida.


Hoje destacaremos apenas alguns versos que nos trazem a reflexão sobre a vida e a morte, mas antes de falarmos propriamente sobre reencarnação ou transmigração como também é conhecido, faz-se necessário um breve entendimento sobre karma na visão Hindu.


A ideia de karma é uma das principais crenças do Hinduísmo e funciona, de maneira simplificada, como a lei de causa e efeito, ou seja, para toda ação existe uma reação, de modo que através de nossas ações estamos constantemente nos carregando de novos karmas e também descarregando karmas de vidas passadas. Portanto, karma não deve ser entendido como ruim ou bom, mas deve ser analisado sob a perspectiva da intenção daquele que pratica a ação, pois será a motivação que irá definir o resultado final. Como bem definido por Shakespeare: “Não há nada bom ou nada mau, mas o pensamento o faz assim”.


Posto isto, fica claro o entendimento de que o processo de reencarnação, está relacionado com a oportunidade de evolução da alma e, consequentemente, com as novas chances que nos são dadas para que possamos assumir a responsabilidade do desenvolvimento e elevação da nossa consciência, para que possamos atingir a plenitude divina.


Em "Poemas Místicos" de Jalāl ad-Dīn Muhammad Rūmī, ele diz: “Morri como mineral e tornei-me planta. Morri como planta e renasci animal. Morri como animal e tornei-me Homem. Por que devo temer? Quando fui eu diminuído por morrer? Ainda outra vez morrerei, como Homem, para me elevar com os anjos abençoados.”


No Bhagavad Gita podemos encontrar o tema reencarnação no capítulo II quando Arjuna mostra-se incapaz de ter que lidar com aquela situação de ter que batalhar e matar pessoas conhecidas, então, ele pede para seu mestre espiritual Krishna que lhe auxilie através da sua grandiosa sabedoria. Krishna, então, o explica sobre a natureza imortal da alma que continua sua jornada mesmo após a morte.


“Para aquele que nasce, a morte é certa; para aquele que morre, o nascimento é certo. Como você não pode evitar ambos os destinos, você deveria não se lamentar.” – Capítulo II, verso 27.


Krishna sugere ao seu discípulo que assim como uma pessoa descarta suas roupas velhas e adquire roupas novas, a alma continua mudando de corpo de uma vida para outra, ou seja, a alma não muda, há uma memória espiritual, ela continuará sendo a mesma, ainda que com outra aparência.


De acordo com a própria física, segundo a Lei de Lavoisier – na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma – a matéria não pode ser criada ou destruída, apenas transformada, ou seja, ela passa de um estado para o outro. A jornada da alma não começa com o nascimento e não irá acabar com a morte.


Quando falamos sobre morte, talvez estejamos identificando a pessoa com um corpo, quando o corpo deveria ser compreendido como um veículo que nos foi dado, havendo, portanto, um condutor por trás deste veículo e que é eterno assim como o próprio Criador.


“Em nenhum momento eu deixarei de existir, nem você, nem nenhum desses reis. Nem no futuro nenhum de nós deixará de SER.” – Capítulo II, verso 12.


Ninguém pode evitar o evento morte, ninguém deixa de ser, de modo que apegar-se a esse nosso personagem temporário se torna algo raso diante da profundidade da nossa alma e da nossa real missão na Terra. A visão do Eu como apenas um agrupamento de células e moléculas, é uma redução ao entendimento de quem realmente somos e no decorrer da história da humanidade o homem parece nunca ter aceitado essa resposta como suficiente.


Assim como na tradição Védica, Sócrates também encorajava as pessoas a investigarem a natureza do Eu, como pode ser visto no portão do templo de Apolo na cidade de Delfos na Grécia “Conhece-te a ti mesmo”. Questionar-se a respeito da existência humana deveria ser um hábito, porque a vida que vivemos além de breve é como um beco sem saída e a nossa alma irá carregar todas as conquistas e derrotas dessa existência, portanto, é fundamental que tenhamos um objetivo nobre de sermos melhores do que fomos ontem.


“Assim como a alma incorporada passa continuamente da infância para a juventude e para a velhice, da mesma forma, na hora da morte, a alma passa para outro corpo. Os sábios não se iludem com isso.” – Capítulo 2, verso 13.


Tudo o que cresce deixa algo para trás, faz parte da natureza, isto é, toda vida passa por mudanças e tanto a morte quanto a reencarnação são apenas estágios da evolução da alma. Para que possamos caminhar em direção ao progresso é importante que nos questionemos a onde esteve a nossa consciência durante toda a vida? O que a vida espera de nós ao final deste ciclo? Testemunhamos o fenômeno morte todos os dias e, mesmo assim, parece não ser o suficiente para mudarmos nossa maneira de viver.


Mesmo diante da existência da reencarnação, não podemos deixar de valorizar a vida e cumprir com aquilo que é esperado de nós. Que possamos fazer da morte nossa fiel conselheira.


Até breve,

Samira Stoiani

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